sábado, 17 de dezembro de 2011

que vida

eu não sei até quando ou até porque as pessoas tentam catar migalhas. migalhas pequenas, quase invisíveis. montando peça a peça suas misérias cotidianas, cada vez mais ridículas, cada vez mais estáveis. ninguém mais aceita desafios, qualquer migalha é bem-vinda. esforço é ser mediano. tentar qualquer coisa que valha qualquer coisa mesmo. nada de novo, as mesmas escolhas, iguais a de outros. sonhos desesperados por estabilidade e uma assinatura para cometer erros. o fim antes do começo de uma vida que podia ter tanto. mas na verdade esse sempre foi o sonho. as repetições, os mesmos caminhos, as mesmas vontades, nada de novo. que vida vocês querem levar hein.

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

quero

eu não quero o caminho de uma vida pequena. a vontade contida de todos os dias. a verdade exprimida entre o café da manhã e a janta. não, não quero. não quero produzir para perpetuar, me apaixonar para casar, crescer para multiplicar. quero o nada do amanhã, o vazio de poder pensar, a vida que um dia chega e a morte que cansa de esperar. não quero todo dia tudo igual, os mesmos sacolejos, as mesmas supresas, as mesmas mentiras. me tragam coisas novas, que me estraguem e me façam seguir adiante. não quero a podridão de uma rotina. mesmos rostos, mesmas faces, mesmas expressões. quero angústias diferentes, não essa vida de plástico com contas pra pagar.

sábado, 15 de janeiro de 2011

brutamontes

eu poderia resumi-lo da pior forma, ou a menos real. ou a mais eufemista. mas prefiro aqui fazê-lo da forma mais correta. a mais verossímil. o príncipe brutamontes. assim ele era. criado assim e crescido assim. pela ordem de chegada era o segundo na sucessão, mas pela força dos fatos era o próximo rei. e para os fatos nunca ligou muito. sabia que um dia eventualmente teria o reino para assumir, mas até o momento continuou brutamontes, sem fazer questão de se endireitar ou ao menos de aparentar. e levou a vida como o segundo na sucessão, mesmo não o sendo. fez tudo que os príncipes menores sempre fizeram. esqueceu de encargos. sumiu, voltou, desapareceu, morreu, nasceu. tudo que não lhe era permitido tentou, nada lhe escapou. e o rei doutor que sempre lhe dissera duras palavras em muitos momentos, abandonara o castelo. e o príncipe viu que a hora chegara. mas para ele não existiria essa hora até pouco tempo. até que a força dos fatos se fez mais forte e ele teve que ceder. seu reino intacto às aparências até então, estava dividido e pouco futuro avistava. com a rainha muda e o príncipe louco, o agora quase-rei brutamontes tinha em suas mãos os encargos que sempre negou. porém era tarde. continuou brutamontes. nada o mudava. seus súditos que sempre o aplaudiram lhe renegaram a alteza. e seu mundo ruiu. a corte que nunca o censurou conspirou contra para tal. e seu mundo diminuiu. e lá estava ele, o príncipe brutamontes, dono de um reino falido e de uma corte insana. e ele continuou reinando, brutamontes sempre. não cedeu, apenas endureceu e assim seguiu. tentou uma nova linhagem com partes da corte que ainda confiava, mas tudo não passava de fumaça. nada mais restava. não havia confiança. e seu mundo rugiu. e brutamontes ele ficou. quase sem forças, mas ainda com a casca de alteza. o rei se foi e ele então era rei, para desgosto de todos e dele próprio. e seu mundo eximiu. até que um dia, a mais inteligente das plebéias o encontrou e o aceitou. aceitou brutamontes. e outro mundo surgiu. não era pobre coitada para aceitá-lo de qualquer forma. tinha suas regras, o manteve na linha. o endireitou de certa forma. virou rainha a contragosto da corte e dos súditos. não se calou perante outras rainhas ou quaisquer princesas. as calou. as fez respeitá-la. e o mundo reviu. mas brutamontes ainda restava. ainda ficava. e o reinado seguiu cambaleante. vieram os herdeiros. o fim da rainha mãe. o fim das mães plebéias. o fim da loucura do primeiro príncipe. e o mundo assumiu. o recomeço depois de tantas vezes. mas sempre brutamontes ele ficou. brutamontes sentiu. não nascera para o reino. não nascera para vida. brutamontes ficou. brutamontes nasceu. brutamontes se foi. e do mundo se redimiu.