sábado, 15 de janeiro de 2011

brutamontes

eu poderia resumi-lo da pior forma, ou a menos real. ou a mais eufemista. mas prefiro aqui fazê-lo da forma mais correta. a mais verossímil. o príncipe brutamontes. assim ele era. criado assim e crescido assim. pela ordem de chegada era o segundo na sucessão, mas pela força dos fatos era o próximo rei. e para os fatos nunca ligou muito. sabia que um dia eventualmente teria o reino para assumir, mas até o momento continuou brutamontes, sem fazer questão de se endireitar ou ao menos de aparentar. e levou a vida como o segundo na sucessão, mesmo não o sendo. fez tudo que os príncipes menores sempre fizeram. esqueceu de encargos. sumiu, voltou, desapareceu, morreu, nasceu. tudo que não lhe era permitido tentou, nada lhe escapou. e o rei doutor que sempre lhe dissera duras palavras em muitos momentos, abandonara o castelo. e o príncipe viu que a hora chegara. mas para ele não existiria essa hora até pouco tempo. até que a força dos fatos se fez mais forte e ele teve que ceder. seu reino intacto às aparências até então, estava dividido e pouco futuro avistava. com a rainha muda e o príncipe louco, o agora quase-rei brutamontes tinha em suas mãos os encargos que sempre negou. porém era tarde. continuou brutamontes. nada o mudava. seus súditos que sempre o aplaudiram lhe renegaram a alteza. e seu mundo ruiu. a corte que nunca o censurou conspirou contra para tal. e seu mundo diminuiu. e lá estava ele, o príncipe brutamontes, dono de um reino falido e de uma corte insana. e ele continuou reinando, brutamontes sempre. não cedeu, apenas endureceu e assim seguiu. tentou uma nova linhagem com partes da corte que ainda confiava, mas tudo não passava de fumaça. nada mais restava. não havia confiança. e seu mundo rugiu. e brutamontes ele ficou. quase sem forças, mas ainda com a casca de alteza. o rei se foi e ele então era rei, para desgosto de todos e dele próprio. e seu mundo eximiu. até que um dia, a mais inteligente das plebéias o encontrou e o aceitou. aceitou brutamontes. e outro mundo surgiu. não era pobre coitada para aceitá-lo de qualquer forma. tinha suas regras, o manteve na linha. o endireitou de certa forma. virou rainha a contragosto da corte e dos súditos. não se calou perante outras rainhas ou quaisquer princesas. as calou. as fez respeitá-la. e o mundo reviu. mas brutamontes ainda restava. ainda ficava. e o reinado seguiu cambaleante. vieram os herdeiros. o fim da rainha mãe. o fim das mães plebéias. o fim da loucura do primeiro príncipe. e o mundo assumiu. o recomeço depois de tantas vezes. mas sempre brutamontes ele ficou. brutamontes sentiu. não nascera para o reino. não nascera para vida. brutamontes ficou. brutamontes nasceu. brutamontes se foi. e do mundo se redimiu.