terça-feira, 12 de dezembro de 2017

cioranica I

talvez o passado seja uma gaveta bagunçada que não deve ser mexida. por medo, por receio. que vale o esforço? para que o esforço? a memória é um artefato atroz, sob o signo da derrota iminente. o que ficou para trás é lembrança, mas a viva lembrança se desfaz quando do presente. o futuro é uma grande colagem de erros, máximas perdidas, lágrimas choradas, certezas vencidas. que é o presente então se não um intermezzo entre o que deu errado e o que pode dar errado? de novo?

o sol da praia, o vento úmido, a sensação de que as coisas poderiam mudar, nada disso é verdade quando vistos no passado. porém eram presente, porém eram algo, porém eram uma possibilidade. mas as possibilidades se esgotam, as certezas se resvalam e o que fica é um vazio. um vazio, um presente, um esgotamento do que não pode ser. a vida é uma incerteza que não se esvai, que não se esgota, que simplesmente é. um eterno presente entre passado errado e futuro errôneo.