talvez o passado seja uma gaveta bagunçada que não deve ser
mexida. por medo, por receio. que vale o esforço? para que o esforço? a memória
é um artefato atroz, sob o signo da derrota iminente. o que ficou para trás é
lembrança, mas a viva lembrança se desfaz quando do presente. o futuro é uma
grande colagem de erros, máximas perdidas, lágrimas choradas, certezas
vencidas. que é o presente então se não um intermezzo entre o que deu errado e
o que pode dar errado? de novo?
o sol da praia, o vento úmido, a sensação de que as coisas
poderiam mudar, nada disso é verdade quando vistos no passado. porém eram
presente, porém eram algo, porém eram uma possibilidade. mas as possibilidades
se esgotam, as certezas se resvalam e o que fica é um vazio. um vazio, um
presente, um esgotamento do que não pode ser. a vida é uma incerteza que não se
esvai, que não se esgota, que simplesmente é. um eterno presente entre passado
errado e futuro errôneo.