está amanhecendo, são 6h, o café ainda quente. a janela de
frente para o nada, de frente para o céu, de frente para o mundo. que se
descortina, o vento da manhã, o frio da madrugada que vai embora, mas que
voltará amanhã, e depois. as andorinhas, ou o que quer que seja voando em
bando, um v que se forma, umas batendo nas outras, tentando realizar a
formação. uma disputa. em direção ao mar, em direção à comida, em direção ao
fim da fome. obra conjunta, solidariedade, organização, mas para a caça. e me
pego pensando na força que temos, na força conjunta. no encontro, no seminário,
na roda de conversa, na organização no local de trabalho e fora dele. mas as
andorinhas, ou o que quer que seja aquilo, vão caçar. seriam exemplo válido de
organização e resistência? só por estarem juntas e organizadas de uma forma
inteligente, ou mais ou menos coesa e racional? e o café começa a esfriar,
consigo bebê-lo agora. o cigarro já na metade, o ronco no outro quarto. não sei
se pertenço aqui. e a andorinha-que-quer-que-seja continua. uma outra formação
em v, e mais outra, e uma quarta. e algumas vão avulsas, mas encontram uma
formação mais à frente. e isso sempre foi assim, desde o triássico, jurássico,
cretáceo ou mais alguma etapa da nossa divisão geológica, que nunca iremos
alcançar. apenas os ossos. ou os ovos. as folhas. que rezam aos deuses que o
ovo do novo mundo chegue. o café acabou, o cigarro antes, o ronco continua.
toda a incerteza também.
terça-feira, 8 de maio de 2018
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