quarta-feira, 25 de junho de 2014

olhos

eu sempre confiei nos olhos de um cão. até que ele veio. rápido, miúdo, e galego. os carinhos que pede são insinceros, sua expressão é vaga, o olhar que dá vacila. nunca sei bem o que quer, se quer por bem ou por mal, se realmente quer aquilo ou finge querer só para mostrar que pode querer algo. e isso não quer dizer nada, ele sabe disso. mas sua expressão vacila, seu corpo vagueia, seus olhos mentem. seja por que é próprio de sua raça, uma genética que não pode negar, um instinto que não vai perder. seja por que tem um outro maior que ele para lhe ofuscar, para lhe dominar, para lhe morder. porém o outro ele desvencilha, ele dribla, ele engana. mas o outro, é um como ele. eu não sou como ele, e ele sabe disso, mas seu olho permanece o mesmo para o outro e para mim. ele não consegue fugir disso, é de sua natureza, é de seu instinto, é sua tônica. a minha é saber que seus olhos não são de confiança.