sexta-feira, 14 de agosto de 2009
bendita
eu já estava acabando, última limpada atrás da nuca. corte rápido, à máquina. só demora um pouco mais por causa da boa prosa que se leva sempre. uma senhora idosa entrou, amparada dos dois lados por um casal de idosos, mas não tanto quanto ela. botaram-a na cadeira. e quando eu levantei ela falou: "- bendita hora que deus não quis me levar desse mundo". ninguém deu atenção. pagando vi como ela estava na cadeira. relutante, à sua maneira, não querendo cortar o cabelo. sentada toda torta, com a cabeça baixa. como se nada tivesse sentido, nem mesmo a higiene pessoal. paguei e saí. depois me contaram que a velha assim que a cabelereira foi buscar algo, a velha pegou a tesoura e enfiou-a no peito. caiu no chão com um sorriso de cada lado. aos gritos da filha e do genro. como se tudo fizesse sentido.